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Influência europeia na música barroca mineira é tema de aula aberta na ESMU
15/09/2015
Sob coordenação do professor História da Música e pesquisador Domingos Sávio Lins Brandão e com a participação de vários estudantes da Escola de Música (ESMU) da UEMG, em Belo Horizonte, uma aula aberta seguida de concerto explorou as conjunções e disjunções entre a música barroca mineira e o barroco europeu, nesta segunda-feira (dia 14), no auditório da Unidade.
A busca pelo sentido de brasilidade e por uma identidade mineira bem como os diálogos culturais de uma Minas Gerais colonial para a afirmação de sua própria identidade foram o mote para as reflexões do professor Domingos. Para ele, as pesquisas sobre as riquezas cotidianas do passado ainda são importantes não apenas para entender o que torna nossa identidade singular, mas também para a afirmação das questões sobre a diversidade cultural e musical brasileira e mineira.
A aula aberta foi seguida de uma apresentação da Orquestra Minas Barroca, da ESMU, regida pelo maestro Guilherme Matozinhos e com participação de 20 músicos, alunos da Unidade. A execução explorou as tonalidades da música barroca e conduziu o público presente a sensações próprias da dualidade barroca, entre a quietude e o arrebatamento, à medida que os instrumentos reproduziam a partitura.
Negação da diferença
Diretor Artístico da Orquestra Minas Barroca, professor Domingos falou sobre as dificuldades que a música barroca mineira tem em ser aceita como participante da escola barroca universal. Ele cita uma experiência recente da Orquestra, ao se apresentar na Alemanha, para exemplificar o que pode ser fruto de algum purismo estético, mas também da negativa dos europeus em aceitarem a diversidade cultural até o ponto da intolerância: “Em junho estivemos na Universidade de Rostock, Alemanha, no teatro Katherinensaal, para o projeto Art Music and Colonialism in Latin America. Tivemos algumas dificuldades de aceitação não só da plateia bávara como também dos eruditos germanos, que resistiram em reconhecer nosso trabalho como algo autêntico”, lembra Domingos.
Para ele, essa postura revela um equívoco conceitual, já que a cultura é concebida como algo acabado e não como forma viva e em constante transformação, passível de influências múltiplas e adaptações. “Isso revela uma resistência à aceitação da diversidade cultural”, diz Domingos.
Uma cultura antropofágica
Para o professor, a própria formação da nacionalidade brasileira mostra como diversos modos de vida e formas de enxergar o mundo se misturaram para forjar uma cultura distinta e tão compexa quanto aquelas que a originaram. E pode-se dizer, continua Domingos, que Minas Gerais foi um dos estados brasileiros que mais teve manifestações dessa hibridização na formação de sua identidade cultural.
Na vinda de outros povos para as vilas do ouro mineiras, os forasteiros trouxeram consigo muitos hábitos e costumes de suas terras natais, em uma época em que vicejava o barroco na Europa. Os primeiros músicos a chegarem às Minas procediam de outros estados brasileiros, como Rio de Janeiro, e da Região Nordeste, e vieram para formar corais a fim de se apresentarem nas ruas e igrejas das vilas mineiras.
Nas festas religiosas, era comum a encenação de autos ligados quase sempre à música, sendo populares as do dramaturgo barroco espanhol Calderón de La Barca. Por aqui, a cultura europeia se misturou aos ritmos de origem africana e também às formas de vida tipicamente mineiras, como o Lundu, vistas como imorais pelos clérigos locais. Desse caldo de expressividade, nasceu a riqueza do barroco mineiro – bem como as formas de recusa e intolerância ao outro e à diversidade dos povos.
Reportagem e Fotografia: Vinícius Xavier (2º Período de Jornalismo – UEMG/Divinópolis)
Orientação: Prof. Gilson Raslan Filho
SEMANA UEMG
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