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Oficina de quadrinhos: crianças do Alto Vera Cruz narram cenas do seu dia a dia
17/09/2015
O preto e branco. A ausência e a presença da cor. Por traços leves ou mais complexos, os desenhos ilustram vários cenários a fim de representar ambientes reais ou ficcionais. À medida que a produção avança, o desenho dá sentido a um contexto muitas vezes hostil, outras, cheio de ternura e esperança. E, assim, vão sendo criadas as identidades de personagens que habitam aquelas imagens, aquele contexto – em narrativas lúdicas traçadas pelas histórias em quadrinhos.
Foi por meio dessa arte que alunos da Escola Municipal Dr. Júlio Soares, no bairro Alto Vera Cruz, em Belo Horizonte, receberam a visita da professora de design Eliane Raslan, da UEMG, para uma oficina de narrativas em quadrinhos, que aconteceu nessa segunda-feira, dia 14. Na oficina, as crianças foram estimuladas a usar o imaginário no processo criativo e desenharam coisas do dia a dia e até realidades alternativas, com roteiros diferenciados.
Os meninos e meninas, instruídas ainda por Edinaldo da Silva Pereira e pela professora Michele de Araújo Martins Drummond, se mostraram animadas com a atividade. Para os professores, ali estava a mais pura manifestação da inocência infantil. Segundo eles, as crianças gostam muito da oficina de quadrinhos pois, dessa forma, elas podem se desligar um pouco do cotidiano e utilizar aquele espaço de expressão para se divertirem.
“Muitos dos nossos alunos vivem aqui na comunidade. Alguns deles estão em uma situação de risco social, não apenas pela violência urbana, mas também pela abordagem do tráfico, que, infelizmente, faz parte do dia a dia das pessoas do Vera Cruz, inclusive das crianças”, refletiu a professora Michele. Segundo ela, com as oficinas, as crianças têm a possibilidade de desenvolver suas habilidades e, talvez, encontrar um caminho. “O importante é que, ao menos enquanto elas estão aqui no centro, não são vítimas do assédio do tráfico. Tentamos fazer com que saiam daqui com princípios de direito à cidadania. É pouco, mas é importante”, ressaltou Michele.
Edinaldo Pereira, que orientava as crianças como monitor da oficina, sabe bem como é o cotidiano dessas crianças. “Vivi aqui boa parte da minha vida e sei como é pesada a vivência dessas crianças no bairro. Além de enfrentar problemas familiares, são poucas as oportunidades para criarem alguma perspectiva para suas vidas”, diz. Para Edinaldo, as histórias em quadrinho, de alguma forma, ao fornecerem liberdade criativa, acabam por gerar um pouco dessa perspectiva. “Com o quadrinho, de forma lúdica, elas traçam um roteiro para suas vidas e podem criar outros ambientes, com os quais esperam para criarem um roteiro menos maçante e, nesse entretenimento, através da educação, ainda aprendem a respeitar a diferença para com os colegas e reconhecerem as coisas boas que possuem dentro de casa e na comunidade em si”, afirmou Edinaldo.
A professora de design da UEMG, Eliane Raslan, e também uma das mentoras do Núcleo de História em Quadrinho (NHQ), falou sobre a importância do desenho para a formação dos alunos e como a diversidade da afrodescendência, dentre outras, podem ser reproduzidas como cultura no mundo ficcional a fim de instruir a sociedade em geral.
“Me voluntariei para lecionar essa aula de História em Quadrinho aqui no centro, porque assim como lecionar é deixar um legado de conhecimento para as próximas gerações, acredito que essa é uma forma de cultura que pode ajudar a transformar a realidade dessas crianças. Os trabalhos produzidos aqui são vistos tanto pelos professores depois quanto pelos familiares dos alunos. Por viverem aqui, os meninos podem, melhor do que ninguém, ser a voz da comunidade através da reprodução dos desenhos. Quando as pessoas veem algo em que se assimilam, tendem a reconhecer a importância dos traços da realidade em que vivem e, assim, disseminar a cultura da população local”, disse Eliane.
Reportagem: Vinícius Xavier (2º período de Jornalismo – UEMG/Divinópolis)
Fotografia: Bianca Faria
Orientação: Prof. Gilson Raslan Filho
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