UEMG - Universidade do Estado de Minas Gerais

Semana UEMG

GUIGNARD E O AFETO DO OLHAR



Cada época exige da Escola Guignard, conforme a demanda, uma resposta: abrigo, sobrevivência, permanência e reconhecimento. O desafio de hoje é o desenho. O desenho é especificidade da Escola que se baseia na liberdade com disciplina. Guignard nos ensina a ver o mundo, através de uma livre, porém, disciplinada visão internalizada pelo olhar afetivo.

** O Desenho e a pintura, dentre as formas de expressão conhecidas das artes plásticas, possibilitam o desenvolvimento da capacidade de criar e despertam no artista o envolvimento com uma linguagem plástica específica capaz de exprimir uma visão humanizada, própria e estética do mundo.

O homem entra em contato com o mundo visível através da visão. O fato de observar implica no ato de olhar e de ver e, então enxergar. Desperta o interesse em ver e olhar as coisas. Conduz a um conhecimento específico que se amplia a partir da observação. O artista olha o mundo, observa e vê, posteriormente enxerga com um olhar transformado. Aprende a distinguir o olhar do ver e a enxergar. Observar o mundo desperta no artista o senso estético.

A partir desta relação inicia-se uma integração entre o ver e olhar conduzindo a um “verolhar”. Essa ação integrada está em perfeita consonância na relação entre o que se olha e o que se quer ver e, através do olhar perfaz a síntese de enxergar. Toda esta dialética está em perfeita harmonia com a intuição criadora e com o fazer.

O ato de desenhar exige uma atenção especial na conduta da visão, implicado no fato de olhar e ver e, também fazer, que decorre de um desejo de representar o que se vê . O artista pode assumir uma atitude mais precisa com o ver e com o olhar ao fazer o que se olhar e vê. Esta visada aponta para um foco específico e se distingue de outros pelo fazer o que se vê e olha. O fazer produz um olhar cambiante que se modifica enquanto se constrói. E, assim desenhar, ou seja, ver e fazer pode produzir um “Desenho lhar”.

É como um vento que sopra abrindo caminho na névoa da incerteza e, tal como a intuição, aponta para um conhecimento afetivo do mundo.

Pensando assim, deve-se estimular no artista a observação para desenhar e pintar. Há aí uma interação afetiva que se inicia dentro da relação do sujeito com o mundo. Porém, ao introduzir o olhar no mundo da arte deve ter cuidado, pois, esta ação é imprecisa na objetividade, mas precisa na subjetividade que conduz o olhar à visão.

Cabe, então, ao artista educador, despertar para a ação de enxergar permitindo ao aluno desenvolver os sentidos em busca de um conhecimento estético e afetivo do mundo.

A ação de “verolhar” pode se dar através da observação, pelo exercício de desenhar, designar o que afeta o olhar e a visão. Um olhar com afeto conduz a uma visão afetiva do mundo em atitude ver e fazer, fazer e ver, um desenrolar do olhar, um “desenholhar”.

Guignard conduzia seus alunos ao Parque mMunicipal, para desenhar. Colocava-os diante da natureza. Deixava-os em frente às árvores durante horas e horas com o objetivo de neles despertar a observação.

Assim, os alunos se punham a olhar as coisas e as cores de um mundo objetivo com um impreciso olhar. Um olhar subjetivo que se modificava no momento em que colhiam aspectos precisos durante a observação, despertando neles o olhar afetivo.

Ver o mundo e a vida em suas imprecisões, através da liberdade de olhar e da curiosidade de ver, talvez fosse o modo de como Guignard ensinava o preciso. Isto é, o modo de enxergar com a precisão da disciplina do olhar tendo como intenção a liberdade de ver com o sentido de ver o dado, aquilo que se é dado a ver como o verdadeiro e a disciplina como o desígnio do olhar, no sentido de ser desenhado, aquilo que é designado pelo olhar.Então, todo este procedimento perfaz um “desenholhar”.

O ver visita a verdade vista pelo olhar absorto que se transforma em uma fonte de conhecimento a qual afeta o próprio olhar. Provocando com isto uma visão de mundo. Guignard propôs um método em que se tem a liberdade e a disciplina. Proposta que ele vivenciava em suas famosas aulas ao ar livre permitindo o desenvolvimento da capacidade criadora como condutora de um caminho no ensino da arte.

Penso que ao conduzir o olhar em direção à objetividade, tal como ensinava o mestre, estaremos indicando um “desenholhar”

Assim, após 50 anos de sua morte, ainda vivenciamos na GUIGNARD a disciplina da Liberdade de ver através do afeto do olhar, porém, sem o GUIGNARD.

Carlos Wolney Soares
Professor Mestre em Artes Visuais
Vice-Diretor da Escola Guignard-UEMG